domingo, 25 de outubro de 2009

Justiniano e os samaritanos


O imperador, por outro lado, foi impiedoso com os samaritanos, os "cismáticos" do judaísmo: privou-lhes do direito de testemunhar e de herdar, e mandou destruir suas sinagogas.
A perseguição fez eclodir uma verdadeira revolta na Palestina; em represália, muitos cristãos foram mortos, e igrejas, incendiadas. "Seguiu-se uma violentíssima repressão: vilarejo por vilarejo, colina por colina, o país foi reconquistado em 529 e 530. Mais de cem mil samaritanos foram mortos, muitos fugiram para a Pérsia, outros se converteram." Em 555, uma segunda revolta foi contida de forma igualmente dura.
Portanto, quando se tratava de defender a "fé verdadeira", Justiniano não olhava nos olhos de ninguém. Mas abriu uma exceção para os monofisistas, pois sua mulher também era monofisista. E, como ela, muitos outros súditos, sobretudo no Egito, um dos "celeiros" do império. Teve para com eles um comportamento que oscilava entre repressão e tentativas de reconciliação.
"No período entre 527 e 544, alternaram-se concílios, manifestações em praças, exílios, reintegração de bispos e teólogos mononsistas, intervenções de tropas para tirar bispos e sacerdotes hereges de seu posto, editos dogmáticos (ou seja, decretos que impunham posições doutrinárias por lei).
Em 544, Justiniano emanou um edito que acolhia, ao menos em parte, as teses monofisistas. O texto, conhecido como "A condenação dos três capítulos", declarava heréticas as doutrinas de Teodoro de Mopsuéstia (morto mais de um século antes); Teodoreto, teólogo; e Ibas de Edessa, acusado de nestorianismo.
Nas primeiras décadas do século XX, o lema de um político vienense que embarcara no carro do anti-semitismo era: "Decido eu quem é judeu ou não". O lema de Justiniano (mas também de muitos outros reis e imperadores cristãos antes dele) poderia ter sido: "Decido eu quem é herege ou não".

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